Para ouvir: Adriana Calcanhoto "Devolva-me" Caminhava sozinha, era comandada pela força intuitiva dos meus pés que me levavam ao destino que por momentos esquecera... Foi então que te vi! Todo o meu corpo se electrizou num delírio febril que me fez cambalear ( e eu que queria tanto ver-te), quase sem pensar virei-me de costas para ti, num movimento tão brusco que denunciava o meu medo de encarar o teu sorriso e permitir que a vibração da tua voz entrasse em mim. Percebi que olhava para a montra de uma agência de viagens, e vi ali... a desafiarem-me sem dó todos os destinos em que nos imaginei, em imagens tentadoras e coloridas que quase me toldaram os sentidos. Mas depois esqueci-as; vi o teu reflexo passar por ela. Reconheci nele todos os movimentos teus que decorei para me recordar deles sempre que te visse aproximar de mim. Deixei-me ficar, galvanizada, a observar cada gesto teu... cada passo que davas, imaginei como estaria a tua respiração (como a sentiria em arrepio no meu pescoço, como tantas vezes senti), imaginei como estaria o teu batimento cardiaco (que tantas vezes soube que a minha presença acelerava). Seguiste caminho e o teu reflexo seguiu-te, o meu mundo ficou mais vazio, perdi a tua imagem... perdi-te! Fiquei só eu no reflexo, percebi como tão distintamente ele me mostrava assim. Olhei os meus olhos vazios, e lembrei-me de como eles eram vivos quando estavam cheios com a tua forma. Tentei seguir o caminho que irónicamente me levava para mais longe de ti. Mas tive de olhar, rodei o pescoço e procurei-te na rua... sentia o vento a acarinhar-me pesarosamente o rosto, senti o meu cabelo roçar com delicadeza os meus lábios, vi-te... fechei os olhos e deixei que ele me recordasse o toque do teu beijo. Gritei-te em silêncio: Devolve-me todos os sorrisos que te dei, devolve-me a calma e a paz de espirito que demorei tanto para conquistar. Devolve-me o pedaço de mim que sem o meu consentimento me tiraste... Devolve-me tudo... preciso de tudo, não me reconheço sem esses pedaços! Pedem-me que reaja mas sem eles não me consigo erguer. Gostava de ter-te dito tudo, gostava que o tivesses percebido! Agora quero esquecer o teu nome, saber quem nele habita e quem o chama como seu! Imagino o dia em que o meu caminho trace distraido uma perpendicular com o teu, o dia em que passe por ti e te sorria... o dia em que a minha voz deslize firme e segura até ti: Vivemo-nos muito... respiramo-nos pouco!! |
quarta-feira, junho 14, 2006
Devolve-me
Títeriar

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sábado, junho 10, 2006
Espaço de outros....
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu, que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nesta alma, ficaste,
De todas as que eu amei.
Paulo Setúbal