quarta-feira, setembro 20, 2006

Ex(travio)

Para ouvir: Radiohead "Paranoid Android"
Será que ouvi a porta fechar? Será que a fechei? Ela está fechada, mas não me lembro de a ter fechado, apesar de ainda sentir uma forma quadrângular na ponta dos dedos. Sentei-me numa cadeira de madeira que encontrei sozinha e deslocada num canto pálido e pouco presenteado com sol. Ao sentar-me nela, ouvi a árvore que ela foi em tempos ranger incomodada com o meu peso. Nem percebi como foi absurdo discutir com ela "Do que te queixas? Eu estou magra, todos me dizem que estou magra". Lembrei-me de ti, (não sei se lembrar será a palavra certa, porque na verdade ainda não te esqueci por um fragmento de tempo) hoje mais uma vez me lembrava de ti. Há quase um mês que não sei onde estás, há quase um mês que não te reconheço. Será que quis chegar com passos de gigante até ti, munida de pés pequenos e já cansados do percurso que me irias cobrar? Olhei para o relógio, senti uma pontada de adrenalina doente subir-me até ao peito quando vi que era a hora de vires ter comigo. Era a esta hora que tudo começava, o primeiro abraço timido, o beijo que não chegava para matar as saudades, e as conversas... as intermináveis conversas que decorávamos com risos francos e sinceros como se nunca antes tivessemos sabido o que era rir. Depois ficava o teu cheiro, a disfarçar a saudade que mais uma vez ias deixar, o teu cheiro a furar a minha pele e a minha roupa, a marcar na minha cama o território que era mais teu que meu. A gota salgada que se espalhou no vidro do relógio fez-me acordar da hipnose estática em que estava. Senti o calor do sol remexer as fibras da minha camisa, percebi que o sol já tinha nascido e que eu estava há horas naquela mesma cadeira e naquela mesma posição; quando me quis levantar as minhas costas mostraram-me que, apesar de eu não ter percebido as horas, elas estavam curvadas há muito tempo. Ia caminhando em direcção á mesma porta que não sabia como estava fechada e a cada passo, a cada movimento que esticava e contraía as plantas dos meu pés ia-me lembrando da última vez que tinha falado contigo, da última vez que tinha ouvido a tua voz e que o teu rosto esteve em confronto com o meu. O discurso não sei se foi desconexo, ou se simplesmente eu não o recordava. Só conseguia pensar na troca em ti. Porque é que tudo me parece de plástico, todos os movimentos são artificiais, todos os sorrisos são inexpressivos, todas as palavras são medidas. Porque é que sinto que passei de um mundo estreme que dividia contigo, para esse teu mundo de velhos fantasmas a quem queres provar que és capaz de tudo!? Os saltos dos meus sapatos acompanhavam agora o ritmo de um outro som, percebi então que tinha ainda o mesmo CD a aquecer de tanto rodar, desliguei-me um pouco de ti para perceber o que estava a tocar e num fio de voz rouca ouvi: "ambition makes you look pretty ugly"... foi impossivel não sorrir com a ironia!

2 comentários:

Anónimo disse...

Mara, Mara... Se fosse eu o alvo desse amor nunca estarias triste! E já agora... quando é que mostras finalmente todo o teu rosto? Beijo

mara disse...

Aposto q alguém está á espera de todo esse teu amor :P E quanto á foto...acho q andas distraido. Volta sempre! Beijo