terça-feira, fevereiro 26, 2013

Eram cinco...

 Para ouvir: Run Boy Run, Woodkid

O vento assobiava na porta do café. Lá dentro estavam 5 pessoas, todas sozinhas espalhadas por cinco mesas, nenhuma delas se olhava.

Na mesa mais perto da porta estava o André, escolhia sempre aquela mesa porque era perseguido pela paranoia do incêndio espontâneo e queria ser o primeiro a fugir caso acontecesse; a veia de herói não lhe estava no corpo. Mas não era nisso que o André agora pensava... ele pensava no segredo dele. Durante anos guardou-o como se da sua vida se tratasse. Era embaraçoso e difícil de explicar e por isso nunca sonhou que alguém, algum dia o pudesse saber. Mas ontem tudo mudou, ontem... só por causa de um pequeno detalhe, o seu segredo ficou exposto. Uma pessoa tinha arranhado o suficiente para o descobrir por baixo da pele de André. E agora?.. e agora?? pensava ele... Imaginava o olhar de espanto de alguns, o olhar de desaprovação e desilusão de outros e sobretudo atormentava-o os olhares de troça e as piadas baixas que se lhes seguiriam. Tinha a alma afundada em angustia, estava perdido de medo e raiva mas nem lágrimas conseguia chorar. Uma mão a tremer segurava uma caneta enquanto a outra puxava um guardanapo para junto de si; e começou a escrever.

Na mesa em frente a de André estava o Rui. O Rui tinha o olhar fixo num ladrilho partido no chão do café. Estava pálido e frio. Quase não mexia um músculo, mas a sua cabeça estava a mil. Fazia contas, refazia-as. Pensava em soluções ou em alguém que o pudesse ajudar. Ele tinha tudo controlado na sua vida, nunca nada lhe tinha escapado. Mas ontem tudo mudou, ontem... só porque se quis aventurar deitou tudo a perder. Foi um impulso que o levou aquela casa de paredes mal pintadas e porta com 2 fechaduras. Quando entrou sentiu um forte cheiro a tabaco e muita tensão no ar. Na mesa redonda estavam já cinco pessoas com fichas coloridas contadas em frente deles, em seguida veio o desafio: então, vens jogar ou vais sentar-te ao meu colo, princesa?? O Rui não sabe se foi por vergonha ou revolta que se sentou naquela mesa e jogou ali tudo o que tinha para se sentir tão poderoso quanto os outros. O que é certo é que Rui perdeu tudo e ainda apostou o que não tinha. O que ele tinha agora eram 48 horas para pagar aqueles tipos tudo o que tinha ficado a dever. O Rui engoliu em seco, pegou no telemóvel e percorreu, quase sem ver, a lista de contacto em busca de um nome que surgisse como a solução para o seu problema. Viu a lista de cima abaixo mais de dez vezes sempre sem se deter em nome nenhum. Acabou por pousar o telemóvel na mesa. Cruzou os dedos e tombou a testa sobre eles. Ficou novamente imóvel a pensar.

No outro canto do café, na mesa mais escondida de todas estava a Mariana. A Mariana tinha a cara encostada ao vidro da janela. A expressão dela era sombria, tinha o rosto fechado e sem vida, parecia estar só a espera do anjo negro. Tinha olheiras carregadas, negras e inchadas até meio do rosto. Os olhos estavam vermelhos de tanto chorar. A Mariana tinha sido muito feliz, tinha experimentado tocar o céu sem sair do chão, tinha sentido a vida a inunda-la de calor, tinha rodopiado numa dança até ter perdido os sentidos e caído nuns braços que a seguraram e prometeram agarra-la assim, até ao fim dos tempos. E tinha sido assim, até ontem...ontem tudo mudou. Ontem ele chegou a casa com uma expressão perdida e com um discurso atordoado.Pediu desculpas antes mesmo de explicar o porque. Disse-lhe que a culpa não era dela, que ele tinha sido fraco... A Mariana sentiu aquilo como uma forte pancada na nuca que a deixou exangue  até aquele momento. Que sentido tinha para ela agora a vida, se a vida dela era ele?! O que ia fazer ela agora? Quando saísse do café ia para onde? Ela não pertencia em lugar nenhum se ele não estivesse também lá. A chuva não molhava e o sol não aquecia se ele não estivesse ali. Nem o tempo, o tempo não se mexia se não fosse para ser passado ao lado dele. A cara da Mariana escorregou pelo vidro até tocar o parapeito da janela, ela nem percebeu que estava agora quase deitada sobre a mesa. Suspirou quase sem força e fechou os olhos.

Na mesa ao lado da Mariana estava o Pedro. O Pedro sempre se tinha considerado um homem com sorte, não tinha duvidas que sempre se tinha esforçado por conseguir o que queria, mas uma estrelinha também tinha estado sempre com ele. Tinha conseguido muito e tudo o que tinha eram representações das suas conquistas, e ele nunca tinha sido muito tímido a mostra-las aos outros. Mas ontem... ontem tudo mudou. Ontem o chefe tinha mandado chama-lo. O Pedro entrou na sala do chefe com o sorriso confiante de sempre, mas assim que olhou para ele percebeu que aquele não era um momento de sorrisos. Ouviu tudo o que o chefe de lhe disse, sempre de cabeça baixa sem dizer uma palavra. "as coisas não estão a correr como prevíamos..." e Pedro ouvia "o projecto foi um fiasco..." e Pedro ouvia... "alguém vai ter de se responsabilizar por isto...". Quando aquele discurso ensaiado terminou, o Pedro levantou-se apertou o botão do blazer, fez um aceno com a cabeça e saiu. Ele queria ter argumentado, queria ter-se defendido, mas sabia que o menino dentro dele ia soluçar, implorar, arrastar os joelhos no chão, sujeitar-se à cena mais humilhante que alguma vez teria feito na vida; e assim saiu... sem dizer uma palavra. Pedro sentia-se zonzo, queria raciocinar, arranjar uma solução mas estava perdido. Como ia ele explicar isto? como teria ele a coragem de dizer o que lhe estava a acontecer, depois de anos a esfregar o sucesso dele na cara dos outros? E as contas... como ia ele agora sustentar a vida a que estava habituado, as coisas que ele achava que faziam dele quem ele é?? Pedro pediu mais um café e ficou à espera.

No canto do balcão estava a Isabel. A Isabel já há muito que tinha deixado de lutar. As roupas dela estavam sujas, o cabelo desalinhado e as unhas maltratadas. Tinha determinado que hoje seria o último dia da sua vida... Há vários dias que andava a pensar como haveria de o fazer, tinha ponderado todas as hipóteses. Não queria sentir dores, não queria sofrer as consequências de uma tentativa falhada e sobretudo não queria que fosse humilhante. Sendo assim optou por um tiro, um simples tiro na cabeça. Sabia que ia provocar destruição e sujidade, isso no inicio incomodou-a, mas depois achou que não devia importar-se com isso porque afinal de contas não era ela que ia limpar e assim sempre poderia morrer de pé. Pensou se haveria de escrever uma carta, uma carta de despedida, ou uma carta a explicar as razoes que a tinham levado a fazer aquilo. Mas depois pensou que ninguém iria querer saber, que estariam todos muito ocupados a fazer as contas e as divisões da herança que ela iria deixar. Ontem... ontem nada mudou, mas hoje tudo ia mudar para Isabel.

Atrás do balcão estava Isaac. Isaac era um rapaz cheio de sonhos. Estava atrás daquele balcão para poder pagar as propinas da universidade e viver com alguma dignidade. Isaac não tinha um problema, mas conhecia bem os problemas. Tinha estado durante a última hora a observar os clientes desesperados que tinha à sua frente. Conseguia perceber qual era o problema de cada um. Mas não era isso que lhe ocupava o pensamento, o que o atormentava é que ele sabia que cada um deles era a solução para o problemas dos outros, mas nenhum deles sabia isso. Nenhum deles levantou os olhos para olhar os outros. 
O turno de Isaac estava a terminar e a colega que o substituía já se via no fundo da rua. Antes de sair para se dedicar à sua vida e aos seus estudos, Isaac escreveu 5 papelinhos e enquanto percorria o café até à saída foi entregando os papelinhos a cada um dos 5 clientes. Uns pegaram nele imediatamente enquanto faziam uma expressão intrigada, outros deixaram na mesa. Mas todos acabaram por ler o que estava escrito. Assim, um a um todos foram arrancados da bolha que tinham criado à sua volta e finalmente olharam-se.

segunda-feira, novembro 19, 2012

São coisas e palavras

Para ouvir: Metallica - Unforgiven II
Simão entrou no quarto e fechou a porta com estrondo atrás dele. Passou a mão pelo cabelo várias vezes como se o estivesse a sacudir. Respirou fundo e largou o ar dos pulmões com violência. Olhou para a Laura com raiva, tinha a boca entreaberta e o maxilar projectado para a frente. 
- Era isto que querias???
- Eu já te pedi, falamos quando estiveres mais calmo.
- Então porque me disseste aquilo tudo? Não comeces o que não tens intenções de acabar.
- Mas eu vou acabar, eu vou dizer-te tudo, mas agora não.
- Agora não porque? Tens um sitio melhor para estares?
- Nao! Preciso de um minuto para respirar; e tu precisas de um copo de água.
- Água? Eu não preciso de água! Tu é que precisas para deitares fora tudo o que não queres dizer.
- Não, não preciso, isto são coisas que nem a água pode lavar.
- O que?? isso nem sequer faz sentido! Fala, FALA... o que é que me queres dizer?
- Eu já te disse, dá-me uns minutos e deixa-me pensar.
- O que é que eu te fiz? Logo eu... eu queria dar-te as chaves do meu castelo!
-Não! Tu querias era fechar-me na torre. Juntar-me ás criaturas imaginárias do teu mundo e manter-me lá, onde seria intocável e onde só tu me poderias ir buscar e fazer papel de herói.
- Nem sei que te responda a isso. Não estou a falar de contos de fadas, estou a falar de nós. 

Laura abriu os olhos e fixou-os no Simão. A garganta doia-lhe de segurar o choro. Ela sabia que se dissesse mais uma palavra que tudo ia sair como uma malha solta. Ficou só assim a olha-lo... O rosto angustiado de Simão partiu-lhe a armadura. O lábio começou a tremer, ela ainda o mordeu para tentar disfarçar, mas os olhos encheram-se de lágrimas e começaram a cair em grossos pingos pelo rosto.
Simão aproximou-se dela, segurou-lhe os braços e numa voz tremida perguntou:
- O que é que fizeste???
- Eu posso colar as folhas do calendário, mas não posso fazer o tempo voltar atrás.

Simão deu uns passos para trás até tocar na parede. Segurou a testa com uma mão e limpou o rosto.
- Sabes, rasga-me o coração ficar de fora a ver-te bater com a cabeça nas paredes. Vejo-te a ficar magoada, a ficar dorida, mas insistes; e eu não te posso parar porque isso não mudava nada, não é? Tu serás sempre assim.
- Não te atrevas a julgar-me, não te aches dono de uma razão que não tens, nem enchas demasiado o peito, porque o que vai, invariavelmente volta.

Simão ia responder, mas sentia-se sem forças. Tinha a cabeça a andar á roda e a boca seca. Sentou-se na ponta da cama e disse: 
- Sai então; vai recuperar os teus minutos.

Laura passou rapidamente por ele sem o olhar. Quando estava a passar a porta do quarto, o Simão pediu-lhe que esperasse. Ela deteve-se mas não se virou, olhou-o por cima do ombro e ele disse-lhe:
- Deixaste-me ficar só a tua ausencia para eu abraçar.

Laura fechou a porta,

Silêncio.

sábado, novembro 17, 2012

De um lado ao outro há apenas o mundo.


Para ouvir: James Morrison - Wonderful world
Sofia estava de pé. Olhava-se ao espelho enquanto escovava o cabelo em movimentos repetidos sem se dar conta que estava a escovar os mesmos fios há demasiado tempo. Reflectido atrás dela estava o seu quarto. Sempre arrumado e organizado. Os cortinados brancos imaculados, os moveis sem vestígios de pó. Livros, molduras, e recordações geometricamente enquadrados nos tampos de madeira. Os quadros na parede tinham sido pregados a fio de prumo, e as suas imagens eram de paisagem bucólicas e cenários de flores e cores amenas. Assim era o quarto dela, o mundo que a pouco e pouco foi construindo com a aprovação de todos os que importavam para ela. E assim também se via ela, a menina bem comportada, de aspecto candido que todos esperavam que fosse. O rosto dela era inexpressivo, as linhas que lhe marcavam a cara não tinham emoção. Só os olhos brilhavam! Os olhos dela fixavam-se agora no infinito, quando a visão começou a ficar turva fechou-os. Esperou uns segundos, deteve-se nos seus pensamentos sem perceber que continuava de olhos fechados, e quando finalmente os abriu, Sofia estava do outro lado do espelho. Deste lado do espelho era tudo diferente. Era um outro mundo... Deste lado do espelho havia vida! Paredes pintadas de vária cores, um par de sapatos perdidos no chão, a janela aberta deixava entrar o sol e uma brisa que agitava os lençois da cama por fazer. Deste lado a Sofia tinha o cabelo solto, um sorriso que lhe vincava as marcas do rosto, e os olhos, inundados de coisas novas, tinham algum medo pela descoberta saborosa naquele mundo novo. Deste lado ela podia desarrumar tudo, podia partir o que não gostava e deitar fora o que lhe trazia más recordaçoes. Deste lado podia pensar livremente, cantar alto e dançar descalça sem medo de se cortar. Mas deste lado havia perigos, nesta parte do espelho não havia ninguem do lado de fora da porta. Deste lado tudo era perfeito no quarto, mas não existia mais ninguem senão ela. Sofia respirou fundo, o sorriso esmureçeu. O que podia fazer ela? Ficar naquele quarto??... onde se sentia mais leve que uma bola de sabão, poder vive-lo, toca-lo, senti-lo e respira-lo numa felicidade que só ela percebia. Ou voltar para o outro lado do espelho??... onde o quarto lhe apertava o peito e a algemava ás paredes, mas onde toda a gente queria que ela estivesse, e onde todos achavam que era o lugar dela. Era esta a sua escolha!! 

segunda-feira, outubro 29, 2012

Dois caminhos

Para ouvir: Jeff Buckley - Lover you should've come over
O António corria. O corpo já termia, a lingua doía em tensão, e o suor gelado colava-lhe o cabelo ao rosto. Ele sabia que nao podia parar...
Já corria sem rumo e sem coordenação há mais de duas horas. Estava exausto e perdido mas sabia que não podia parar...
Ele estava preso ao rumo das coisas que tinha escolhido para si, ele achava que seria melhor assim mas agora tinha levado o murro das coisas que não queria ver, e pensava: "e agora o que é que eu faço?" nada á sua volta lhe podia dar uma resposta e ele não podia parar...
O sangue pulsava nas veias, pressionado pelos batimentos e quase rebentava pelos poros, mas o António não podia parar...
Já era noite, só se ouvia o som dos galhos que estalavam esgamados debaixo dos pés, e a respiração descontrolada e rasgada do António. E ele pensava: "quem me dera poder voltar atrás, mudar os detalhes do que fiz, do que me fiz, do que nos fiz, só queria poder mudar os pequenos detalhes que me trouxeram aqui". Os pensamentos começavam a formar frases, mas mesmo assim ele não podia parar...
O António sabia que não podia passar mais um dia ser resolver o labirinto que criara na sua vida, sabia que assim que chegasse a casa tinha de tomar uma atitude, sabia que assim que o corpo cedesse, a razão iria obriga-lo a voltar ao seu mundo, por isso ele não podia parar...

A chuva que caía já há algumas horas começou a engrossar e a luz dos relâmpagos riscava o céu.
O António escorregou na terra ensopada e torceu um pé, ouviu um estalo mudo seguido de uma dor fina insuportável. Encostou-se contra uma arvore e sentiu os pulmões a contrair num aperto de garganta sufocante. Ficou parado, segurava o tornozelo com uma das mão e com a outra limpava o rosto e pensava: "não posso parar"

A lua já tinha corrido metade do céu, a chuva já tinha parado e o peso das decisões empurrava o António num passo torto e cansado. Mas ele não podia parar...

Por fim o corpo entrou em falência, os pés bateram um no outro e o António não conseguiu controlar o peso do corpo e ajoelhou-se no chão. Foi ai que soube que não podia correr mais. Tinha só o caminho para se perder dentro da floresta, ou o caminho para voltar para casa.

O António não devia ter parado de correr...




domingo, novembro 28, 2010

cinderela

Para ouvir: Pearl Jam "The End"
-Então Maria, já estás pronta?
-Estou quase mãe, já vou. Espera!

O Baile de finalistas era dali por 9 dias, e Maria contava-os com risquinhos no caderno. Nunca imaginara que alguém a iria convidar, nunca foi bonita nem vistosa e o facto de pesar quase o dobro do que devia sempre afastara os olhares masculinos. Quando o Artur lhe perguntou, quase a medo, se ela queria ser o par dele, a Maria até se esquecera de respirar antes de conseguir dar uma resposta. Andou 3 dias a cansar a paciência da mãe, queria ir comprar o vestido mais bonito que alguma vez alguém vira. A Maria sabia que o ia encontrar, sabia que devia estar guardado num armazem, á espera que as mãos dela o arrancassem do fundo de uma caixa, directamente para a noite mais perfeita de sempre. A mãe disse-lhe que iriam assim que ela tivesse um tempinho e repetia entre suspiros cansados: -Calma calma, não hás-de ficar sem vestido.

E foi nesse dia que o foram procurar, a Maria ia tão entusiasmada! Lançava risinhos nervosos á toa, e sentia as mãos suadas e frias. Mãe e filha devem ter visto mais de cem vestidos, entraram em muitas lojas e em cada porta que abriam, a Maria sentia uma nova esperança: É aqui que o vou encontrar! Mas o tamanho da Maria não se prestava a vestidos glamorosos e cada vez que um vestido não subia nas ancas, o lábio de Maria tremia enquanto ela tentava disfarçar com uma piada. Até que ela viu o vestido perfeito... era azul, da cor do mar! O vestido mais bonito que ela já tinha visto. Não lhe servia!

Tentou e tentou, mas o vestido não cabia. Então a Maria decidiu que preferia morrer a ficar sem o vestido e jurou que só bebia água até ao dia do baile. A mãe, já sem paciência, revirou os olhos e conformou-se com a decisão de Maria de comprar o vestido mesmo não lhe servindo. Nos dias que se seguiram ela fez dieta rigorosa, tinha muita fome, mas logo se lembrava do Artur e do vestido cor de mar e segurava religiosamente a sua intenção de se enfiar no vestido nem que não pudesse respirar. Todos os dias o experimentava e na véspera do baile já faltava pouco para conseguir puxar o fecho das costas até ao cimo.

Chegou o dia do Baile e este era, para Maria, o dia que ficaria na história como o dia em que ela e Artur se iam unir e ficar juntos para sempre, como nos contos de fada! Os dias de fome compensaram, e Maria, ainda que apertada, cabia no vestido que desde criança imaginara. Na hora combinada o Artur veio busca-la, vinha de sorriso aberto e confiante, mas os pequenos cortes laminados na cara mostravam que o nervosismo o tinha traido enquanto fazia a barba.

Chegaram triunfantes ao salão do baile! No meio da música, flashes e decorações prateadas, eles sentiam-se os mais elegantes. A Maria não acreditava em tanta felicidade, parecia que estava a assistir a tudo de fora, parecia-lhe impossivel estar a viver um momento tão perfeito. Foi então que vibraram nas paredes do salão os primeiros acordes da música que inaugurava o baile, a maria sentia-se a caminhar sobre vidro enquanto era levada por Artur para o centro da pista. Começaram a rodar, harmoniosos ao som da musica e tudo era perfeito. Foi então que ela sentiu qualquer coisa estranha que lhe percorreu todo o lado direito, sacudiu a mão de Artur e ficou petrificada quando percebeu o que tinha acontecido... as frágeis costuras do vestido azul mar não aguentaram o corpo da Maria, nem as voltas na pista de dança, e cederam. Ela tentava segurar o vestido que cada vez rasgava mais e expunha mais o corpo, mas quanto mais ela se debatia por evitar mais danos, mais o tecido abria largas brechas. Os movimentos mecanicos e rápidos dela atrairam a atenção dos outros... os dedos apontados, o som das gargalhas em eco, o desdém das outras miúdas que conseguiam caber nos vestidos, a troça estampada na cara dos miúdos... E o Artur que se afastava a recuar em passos largos surpreso e envergonhado, não se aproximou para a ajudar. A Maria saiu a correr do salão, sentia o ar a entrar pela gigante abertura lateral do vestido, as lágrimas corriam livres no rosto e deixavam grandes linhas limpas na maquilhagem. Chegou aos soluços e tropeções ao conforto da escuridão longe dos olhares de todos. Deixou o peso do corpo prega-la ao chão, chorou abraçada ás pernas e percebeu que afinal... não há contos de fadas!

sexta-feira, agosto 29, 2008

Lolita

Para ouvir: Rufus Wainwright "Hallelujah"
Carlos era o seu nome e sardento era o seu rosto. Rasava os ramos das árvores do alto dos seus 120 centimetros, tinha doze anos de idade e séculos de sonhos já vividos e milhões de outros para realizar. Mas aquele dia... aquele dia ensinou-lhe o que era amar! Estava sentado num passeio baixo, o sol já se escondia e toda a rua da praia das flores parecia um quadro de fim de verão, onde tudo se encaixava numa cor amarelo torrado que invadia no peito um calor relaxante. Foi quando Carlos ouviu uns passos, olhou na direcção do som e a cruzar a esquina vinha ela... Ela!! Com a boca entreaberta ficou a vê-la passar. Tinha na ponta dos lábios uma gota de saliva que sugou com toda a força quando a sentir cair, ele nunca tinha visto nada assim, era uma visão em encarnado! Era muito mais velha do que ele, mas as curvas do corpo de uma mulher de vinte e poucos anos encheram-lhe o pensamento e fizeram-no diferente. Quando ela passou perto dele ele fixou-lhe os pés, estavam empinados nuns sapatos de laço e verniz que brilhavam quase tanto quanto o rasto que ela deixava. Ficou a vê-la a afastar-se, focou o fundo das costas desnudas, onde duas covas perfeitas furavam a carne e evidenciavam a força que aquele corpo movia. Demorou alguns minutos a sair do torpor que o momento lhe provocou, levantou-se do passeio e dirigiu-se para casa sempre a rodar a cabeça na esperança de a voltar a ver. Esqueceu-se que tinha combinado jogar berlindes com o seu novo amigo Tomás quando o sol se pusesse, esqueceu-se que a mãe embirra com ele quando não limpa os pés ao entrar em casa; ignorou a voz do amigo a chamà-lo do lado de fora do portão e ignorou os protestos vociferados da mãe. Entrou no quarto e percebeu o que lhe aconteceu... estava apaixonado!
A sua rotina alterou-se, agora o seu caminho era onde aquela lolita crescida ia, os seus gostos eram os mesmos dela; até conseguiu convencer o Tomás a beber 3 Laranjina C por dia, só para poder sentar-se numa mesa da esplanada da praia bem pertinho dela. Estava tão apaixonado!! Tudo nela era admirável, o cabelo escuro e leve que se agitava com a mais pequena brisa, a pele morena e um pouco estalada do sol, os lábios hidratados e sempre rasgados, os olhos grandes e sombreados por umas pestanas que se vincavam no contorno como arbustos, o peito generoso que espreitava pelo decote cavado da roupa de verão que ela insistia em usar justa. E ficava a vê-la passear pela praia, a gingar na ponta dos dedos as fitas das sandálias e a rir muito alto e com vontade, no ar passava pomposo o cheiro do mar que lambia a areia quente e ele sentia-se no lugar mais perfeito de todos os cantos do mundo. O seu dia era dela, e apesar de nunca lhe ter dado uma palavra e de ela nunca sequer ter olhado na direcção dele, a sua vida era completa e feliz.
Até que ele chegou... era ruivo e alto, cheio de si mesmo! O Carlos jurou que o caçava, que lhe batia tanto que os pulmões ficariam em água, jurou que o levaria até aos confins do inferno, jurou que lhe partia todos os ossos do corpo e que faria da pele dele o tapete para a porta de casa, mas jurou em silêncio, e a ameaça morreu ali com o som das palavras que nunca teve coragem de dizer. Viu a rainha da sua vida ser levada pela mão do atrevido banhista, viu-a pulverizar-se quando a tocava, viu-a render-se a tudo o que um menino de doze anos ainda não saberia fazer. De ombros caidos foi para casa, praguejou contra ela, praguejou com ele e contra o mundo que se tinha formado só para contraiar este destino que o Carlos tinha escolhido.
Entrou no quarto e percebeu o que lhe aconteceu... já não estava apaixonado!

Quem te fez meu?

Para ouvir: Perfume "Intervalo"
Era quase noite; o cheiro estéril da terra molhada e a parede branca á minha frente eram as únicas coisas que mal me prendiam á terra. Fitava a pobre paisagem mas era em ti que os meus olhos quentes e secos pousavam. Perguntei-me se teria perdido a capacidade de chorar, e assim culpabilizei-me por tantas lágrimas choradas em vão, por coisas menores que não mereciam que a minha pele absorvesse o sal que escorria delas. "Não consigo chorar, sabes??? Arrancaste tudo o que era puro em mim...até a água salgada e quente que desce dos meus olhos deixaste secar" Senti umas mãos vendarem-me o olhar e enegrecer o cenário que marcava com os olhos ardentes de não chorar... eras tu!! Tomaste nesse gesto de criança a leveza com que nunca te abalavas por nada, sorriste como se a brancura de uns fios de marmore pudessem apagar tudo o que secou o liquido que trazia por dentro. Leste no meu rosto que não bastava um sorriso para me fazer esquecer, vi-te tentar com um afágo no rosto e um novo sorriso... a nada reagi. Então vi a tua expressão mudar de forma, apagou o sorriso e queimou as rugas bem dispostas que formavas no contorno dos olhos. Vi-te como se tivesses acabado uma dura batalha; baixar os braços como se tivesses dado o melhor de ti; engolir o ar como um derrotado de uma rixa de dias; como se o peso do mundo te tivesse pesado nos ombros toda a vida!!Como se te tivesses ao menos esforçado...
Fraco.
Detesto essa tua plácida atitude de nunca a tomar!

To: Todos os cobardes

terça-feira, junho 19, 2007

Foi.........

Para ouvir: Tokio Hotel "Guizz"
Não te quero mais!!!
O toque das tuas mão e a tua voz já não me causam arrepios, é uma irónia que me encham de náuseas e me afoguem o estômago em água, pela raiva que me dá o que nunca fizeste por nós! Lembro-me de nós num desses dias ventosos que afrontavam o verão que devia brilhar em pleno... lembro-me da tua voz no meu ouvido "Vou fazer tudo para que fiques sempre comigo" Achei de uma enorme ternura a forma como me abraçavas e me protegias do vento frio enquanto me aquecias com essa promessa. Mas foi também o vento frio que a levou, levou para outras bocas, para que outras vozes a fizessem sentida.
Não te quero mais!!!
Fizeste tuas todas as razões, guardaste para ti todos os argumentos como se eles fossem preciosos demais para partilhar. Sentaste-te num altar que a teus olhos era demasiado alto para eu alcançar. Tudo esmoreceu em ti... o teu sorriso já não tem o encanto do menino que eu agarrei para mim, a tua pele parece agora que fere a minha quando me toca, como se tivesse espinhos. O teu olhar esta perdido, já não se fixa em nós, já não me olha... atravessa-me!
Não te quero mais!!!


To: Joana (porque te percebo muito bem)

sexta-feira, maio 11, 2007

Acordar...

Para ouvir: Imogen Heap "Hide and Seek"

O despertador estalou ruidoso no meu sonho, roubou-me ás horas de sono que o meu corpo ainda pedia. Deslizei para o frio fora da cama, sentia o corpo ceder ao calor que me puxava para trás, a custo mantinha os olhos abertos "Não me lembro a que horas me deitei" Peguei no relógio que deixei esquecido em cima da cama, olhei para o vidro por cima dos ponteiros, tinha o olhar absorto no reflexo de luz que vibrava nele e não conseguia focar os ponteiros; nem me esforçava por isso! Rodei os olhos nas órbitas, senti uma vertigem enjoada e o peso dos meus ombros foi mais forte que a minha determinação e cai com força no colchão ainda quente de mim. O impacto no meu cérebro foi o das memórias, não foi forte nem fatal, mas teve a dor de me lembrar de tudo! Senti a garganta apertar, os ouvidos dilatavam e uma grossa gota de sal quente pedia para passar pelas minhas pálpebras caidas pelo cansaço. Uma hora depois estava sentada na secretária, não estava pronta para um dia de trabalho, mas pelo menos estava lá. Tinha chegado cedo demais, não me lembrava de fazer o caminho até ao escritório, fez-me recordar quando era uma menina nas viagens de férias grandes; a meio do percurso, vencida pelo tédio do caminho feito em estradas nacionais, adormecia. Quando acordava estava num cenário completamente diferente, onde o vento era mais fresco e cheirava a sal! Nunca sofri do "saudosismo português", nunca desejei voltar atrás no tempo, mas naquele momento desejei ver as coisas como a menina que ficava sem ar quando abria os olhos e via o oceano azul e disponível para mim.

domingo, abril 15, 2007

Tua

Para ouvir: Beady Belle "When My anger starts to cry"

Não sei dizer o dia exacto em que o sorriso dele foi diferente, já tinha visto tantos sorrisos dele!! Mas aquele deixou marcas, nunca tinha visto desenhado no seu rosto uma expressão tão única, foi esse sorriso que senti que era só meu! Foram tantos os sorriso que depois desse me deu! "És o que de mais perfeito tenho na vida" Foi tão inesperado ouvir isso dele, respirei fundo até me sentir cheia do seu perfume, como se fosse o perfume das suas palavras que me enchia o peito, fechei os olhos como se fossem empurrados pelo peso do cansanço, para que no negro dos meus pensamentos pudesse gravar com letras luminosas o que tinha acabado de me dizer.
"És única pessoa no mundo capaz de me achar perfeita", disse com uma voz calma para disfarçar a reação forte que tudo aquilo estava a provocar em mim. Ele sorriu um pouco embaraçado pela aparente leveza com que eu estava a levar a conversa "Tudo é um motivo para te rires" Eu sei que ele não se queria mostrar incomodado pela minha distância, mas estava com um sabor insulso na boca e desviou os olhos dele dos meus, deixou cair o olhar no chão e o sorriso apagou-se do rosto. Agarrei-lhe a mão com a força do que não lhe conseguia dizer, vi a pele ficar sem cor e depois encher-se do vermelho estancado do sangue que eu não deixava correr. Em silêncio disse-lhe "Por favor não me esqueças... mesmo que o tempo desgaste a tua memória cheia de momentos pingados de perfeito, por favor não me esqueças!" Sei que ele percebeu, mesmo sem as palavras, tudo o que lhe quis dizer. Reconheci-lhe uma expressão de alívio e conforto, senti também o quente dos braços dele á volta do meu corpo numa promessa muda de que sempre assim seria! Senti-me segura, e embalada pelas certezas que todos os sorrisos me davam disse-lhe num fio de voz comovido: "Fica comigo"


To: ..........Tu..........

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Dolente...indolente

Para Ouvir: The Gift "Fácil de Entender"

-Acreditas mesmo que me desiludiste? Achas que te dei esse poder?... Ele olhava-me com uma expressão nervosa, os olhos rodavam nas pálpebras, fixavam o meu rosto, os seus pés e frequentemente limpavam o chão. Rodava os polegares um no outro, como se esperasse que assim o tempo passasse mais depressa. Eu estava de pé e olhava pra ele, que sentado numa cadeira a poucos centimetros de mim, parecia uma criança que estava encolhida pela voz mais alta de uma reprimenda por um qualquer vidro partido. Olhado de cima parecia agora tão pequeno, tão pouco interessante. Quando ouvi a voz dele tentar passar a garganta em golpadas débeis e hesitantes quis abraça-lo, quis dizer-lhe que o odiava, quis sentir o calor dos lábios dele acalmar-me a raiva que a paixão por ele me traziam. Mas não me movi um milímetro. Quando finalmente ele falou: - Deixa-me em paz, não me tortures... o que é que tu queres? Que eu seja o espelho do homem que amas há anos? Que seja capaz de te fazer vibrar como sei que vibras sempre que o nome dele aparece brilhante no ecrã do telefone? Que seja capaz de te fazer ficar em pontas quando te falo ao ouvido? Que seja capaz de arrepiar cada poro da tua pele quando respiro no teu pescoço? Que te faça sorrir enternecida e que te faça perder a voz de tanto rir? E julgas que eu não queria isso também??? A voz dele subia rápidamente de tom, falava agora com muita segurança, estava já de pé e por várias vezes teve o impulso de me agarrar no braço... mas nunca o fez. Assim de pé ganhava outra forma, parecia um Zeus ferido no orgulho e eu não conseguia perceber se estava assustada ou simplesmente surpreendida com aquela metamorfose. Nunca o tinha ouvido falar tão alto, nunca tinha fechado os olhos e estremecido quando me dirigia uma frase. E continuou: - Achas que gosto de me deitar todas as noites ao teu lado e saber que quando te abraço é outro nome que em pensamento chamas, e que fechas os olhos e finges que é com ele que estás? Achas que gosto de ver os olhares desdenhosos que me lanças quando faço alguma coisa como ele nunca faria? Achas que gosto de ser sempre, sempre comparado? A voz dele era agora um grito monocórdico, eu tinha os lábios entreabertos de surpresa e estava agora mais perto da porta. Numa golfada de medo gritei-lhe mais alto: -Achas que eu não sou castigada o suficiente por não ser com ele que me deito? Achas que não é castigo suficiente ser o teu rosto que vejo todos os dias de manhã? Se te doi a ti a comparação, imagina como não me doi mais a mim ver que o homem que está ao meu lado é sempre o perdedor. Não sei porque disse aquilo, não sei o que me fez ser deliberadamente dura com ele, e não sei porque mas senti um alivio enorme assim que disse tudo aquilo. Ele olhou-me incrédulo! Em seguida senti no rosto uma descarga quente e áspera... -Acredita que isto doeu menos do que tinha para te dizer. Eu não ripostei...nem argumentei! Apertei o casaco e dirigi-me com passos pequenos e lentos até á porta. O meu cabelo descia pelos ombros e parecia querer acariciar a minha face mazelada. Enquanto esperava pelo elevador senti uma pressão na garganta... foi tão errado o que lhe disse! ... no dia seguinte, ele entrou no elevador... Encontrou escrito no vidro: "Quando fecho os olhos é o teu nome que em pensamentos chamo" Ele sorriu!

segunda-feira, novembro 27, 2006

Faster...Faster...

Para ouvir: Matchbox 20 "Bent"


-Podes ajudar-me?
-Claro, sem problemas!
Sorriu delicado, era sempre tão delicado! Foi pelo sorriso que me enredou, foi o sorriso que me despiu, foi o sorriso que me dispôs á vontade dele... Eu gostava do jeito timido com que se movia, gostava dos olhares disfarçados, dos toques inocentes que ganharam contornos mais vivos no dia em que deixamos em aberto, quase por brincadeira, que aliviariamos as tensões com gotas de suor, saliva e gemidos. A presença dele era demasiado forte para eu fingir que não sentia um frio vibrante subir-me ao pescoço e arrepiar-me a pele sempre que ele segurava a minha cintura com ambas as mãos. Quando um dia se aproximou em silêncio; senti o corpo dele colado nas minhas costas, afastou o meu cabelo e disse numa voz funda e grave:
-Quero-te!
Os lábios dele passaram na minha orelha quase sem lhe tocarem, senti a minha língua afogar-se e uma indolência tão subita que quase me custou abrir os olhos. Já tinhamos ironizado sobre isso, mas apesar de eu saber que a atracção que sentiamos era mais real do que alguma vez pudemos admitir, não esperava ouvir uma confissão tão imperativa da vontade dele. Eu podia ter lavado o rosto, deixado que o gelado da água a descer pelas minhas costas e pelo meu peito tivesse inibido a cobiça que aquela voz murmurada provocou em mim! Mas segui a minha carne; o meu corpo pedia-me o corpo dele. Envolvemo-nos em beijos febris e longos, nos lábios sugados o sangue parava de correr e atiçava-me mais a vontade de beber aquele sabor! As mãos moviam-se rápido por baixo da roupa a percorrer cada parte do corpo, a provocar sensações e a aguçar sentidos. Era um calor que saía do estômago e dilatava por todo o corpo, era o agarrar fogoso que marcava os cabelos nos dedos, era saliva, suor... era o salgado da pele a queimar a garganta; e as palmas das mãos a escorregar e a contorcerem-se em movimentos nervosos! Foi um arrepio que subiu desde as ancas até ao maxilar, para o anestesiar!
Depois ficou o abraço, o alívio, a culpa, o cansaço...
Diz o meu nome!
-Querida, vemo-nos amanha!!

terça-feira, novembro 14, 2006

Delito


Para ouvir: Archive "Need"



Olá... Todos os dias passas por aqui á mesma hora, todos os dias fico ansioso á espera que passes, e quando te atrasas sinto um formigueiro desagradável no peito e na ponta dos dedos com medo que te tenhas decidido por um outro percurso. Será que me vais deixar viver mais tempo nesta morna agonia, ou desta vez vais-me deixar caminhar contigo e entregar-te no teu destino?

Foi assim que ele me abordou, foram estas as primeiras palavras que me disse, falou com tanta rapidez que quase mudou de cor prestes a sufocar, parecia que tinha escrito aquele discurso e que foi obrigado a debita-lo com aquela velocidade por medo de se esquecer de alguma parte! Aquele podia bem ser mais um "pinga-amor", daqueles que nos fazem sentir a mulher mais que tudo no mundo e em seguida atiram-nos para o grau zero com a violência de uma implosão. Mas aquela abordagem... se era pra eu ser só mais uma ele fez com que valesse a pena. E assim deixei que ele me acompanhasse, e com o tempo ia deixar mais, muito mais...

- Não queria que esta fosse a banal conversa de engate que deves estar habituadissima a ouvir, mas infelizmente vou ter de te fazer a típica pergunta; por favor... dizes-me o teu nome?

- Vamos tornar isto interessante, e eu revelo-te o detalhe mais insignificante da minha vida depois de te contar alguma coisa com valor sobre mim!

Eu não moro muito longe do local onde ele me abordou, mas o gosto pela sua companhia fez-me dar a volta mais longa. Quando me apercebi que ainda assim estavamos muito perto de chegar comecei a andar em circulos e fiz-nos passar várias vezes pelos mesmos sitios. Eu sei que ele percebeu o que eu estava a fazer, mas foi cavalheiro ao ponto de não tirar partido do meu visivel interesse em mantê-lo mais tempo comigo. E isso fez-me querer fazê-lo rodar muito mais vezes as ruas do meu bairro. Por sim, cedemos ao cúmulo das voltas repetitivas, e com um riso descarado e cativante ele disse-me que era melhor sentarmo-nos no banco que já o estava a provocar desde a 12ª volta! Eu ri-me, tinha sempre que me rir... era tão inesperado e perfeito!! Conversámos horas; em qualquer outra situação o banco teria sido incómodo, muito provalvelmente eu tinha dores em todo o corpo, mas nada me levaria a sair dali, a menos que a companhia dele me levasse. Ele ouvia-me com tanto interesse que eu podia jurar que tudo o que eu lhe dizia tinha o encanto da revelação, era como se o mundo lhe fosse apresentado com cores que nunca antes tinha visto. Por fim ele tocou no meu cabelo, com um gesto distraido pegou numa mescla e enrrolou-a repetidamente entre os dedos. Tinha dedos esguios e longos! Com a despropositada desculpa de que o cheiro do meu cabelo lhe era familiar, aproximou-se para o cheirar mais perto. Eu baixei um pouco a cabeça, já aturdida pelo arrepio que sabia que ia sentir quando ouvisse a respiração dele tornar-se mais funda perto do meu ouvido!

Passaram mais alguma horas quando ele, a meio de uma frase, parecendo ter sido atacado por uma amnésia súbita, levanta-se e diz:

- E o teu nome? Já me disseste coisas valiosas sobre ti... falta o teu nome!

Eu ia levantar-me também, quando percebo que ele estava a balançar os pés na ponta do passeio alto. Estiquei o braço para o segurar, e sabia que assim que ele voltasse a equilibrar-se ia dizer uma qualquer piada sobre isso e eu ia rir até ficar a respirar em golfadas fracas. Mas o meu braço não chegou até ele... quando o vi esticado pensei que tinha encolhido, dei um passo rápido na sua direcção mas não fui a tempo. O peso do corpo dele, em desleal equilibrio, estava a puxa-lo para a estrada. Ouvi o chiar encrespado da borracha a queimar o asfalto... e vi o corpo dele ser projectado, perder a forma e tornar-se difuso. Depois foi tudo demasiado rápido, ouvia vozes, alguns gritos. Os meus olhos estavam focados no corpo dele, inerte, estendido do cinzento do chão, e que agora parecia estar a alastrar até ao seu rosto. Eu estava de joelhos perto dele, mas parecia-me que teria de andar quilómetros até o alcançar, arrastei-me até mais perto; vi algumas pessoas correrem até junto dele e pegarem-lhe. Havia pessoas de pé e algumas, as que o seguravam, estavam tal como eu de joelhos. Vi corpo dele distribuir o seu peso pelas imensas mãos que o agarravam, todo aquele cenário me pareceu bizarro, saido de uma qualquer tela obscura da idade média. Quis agarrar na mão dele e fugir dali, ir para um mundo paralelo onde ele não se desiquilibrou e onde não se ouviu o som derrapante dos travões. Rastejei até perto dele, deixei o corpo flácido dele aterrar em mim, aproximei-me e senti o cheiro do cabelo dele. Enquanto o som das sirenes estalava o silêncio da noite, disse-lhe: O meu nome é ...........

quarta-feira, novembro 08, 2006

Tudo bem, Tudo bom...

Para ouvir: James Morrison (You give me something)


O tempo não te castiga! O vento não te agita, apenas tráz um calor morno e relaxante que envolve todos aqueles que abraças. A chuva não te molha, passa por ti e limpa o teu corpo de todos os pecados que sabes que nunca vais cometer. O sol doura a tua pele, só para que o teu sorriso seja mais brilhante a quem o ofereces. A neve não te enregela, a neve conserva resoluta toda a pureza que resolveu oferecer-te sempre que os seus flocos te acariciam os ombros. Há tanto para dizer sobre ti, há tanto que já te disse, há um tanto maior que nunca vou dizer. Vives no meu mundo real, onde nele partilho muitos risos e muitos acordes! Vives no meu mundo de sonho, onde nele te trago para mais perto e pinto na tua partitura todas as notas que não te posso dar.
You give me something
That makes me scared, alright
This could be nothing
But I'm willing to give it a try....
(To: mr Coldie... sim Tiago, este é descaradamente para ti)

terça-feira, setembro 26, 2006

Por fim...

Para ouvir: Panic at the disco "I write sins not tragedies"

Gelado estava o vidro onde encostei o rosto queimado do sal que já seco fervia, senti o alívio do frio e ali me deixei ficar. Quando rolei o olhar vi a estrada; era mais um dia normal (para o mundo lá fora era um dia normal). Vi um arquitecto despromovido a comercial de peças de computador, que descontente carregava a mala do carro e olhava para o relógio barato; o que o cercava era mundano e pouco significativo... não foi para isto que eu estudei... Mais longe vi uma mãe, que alarmada pelas horas já tardias, arrastava os filhos como se eles fossem só mais uma tarefa diária. Via os carros que passavam rápidos e cheios de vida, e que deixavam o contorno vibrante da sua cor para trás. E via o meu reflexo; com o corpo colado no vidro, quase sem vida. Ao ver-me assim, retratada pelos meus próprio olhos, e ferida pela minha fraqueza, senti raiva de mim. Detestei ver que eu me tinha transformado naquilo que sempre tinha ironizado. Endireitei-me, sequei o rosto, respirei fundo e limpei a garganta. Com algum medo voltei a olhar para o vidro que instantes antes me tinha dado a conhecer uma silhueta minha que me tinha cortado o orgulho; vi que estava exactamente como tinha imaginado, e que daquela figura translúcida eu já não me poderia envergonhar... Senti-me bem melhor! Como numa desesperada promessa de Ano Novo, eu jurei que não mais voltaria a chorar por ti, mas para isso tinha que me despedir da imagem que, sozinha, criara á tua volta. E despedi... Vivo nos sonhos perdidos que me roubaste das mãos. Teimo em prende-los com tanta força que as minhas unhas deixaram em carne aquilo que em tempos existia só para te tocar! Choro lágrimas de areia que me raspam a pele como ácido, que deixam chagas perpétuas que nenhuma água pode lavar. E dói-me mais que seja essa a imagem que de ti vou guardar! Quando voltei a olhar á volta todo o quarto parecia ter mais luz, e nem a chuva lá fora me parecia mais um eco repressivo do que ia solto dentro de mim. Chorei-te por fim, hoje por fim, e para sempre!

quarta-feira, setembro 20, 2006

Ex(travio)

Para ouvir: Radiohead "Paranoid Android"
Será que ouvi a porta fechar? Será que a fechei? Ela está fechada, mas não me lembro de a ter fechado, apesar de ainda sentir uma forma quadrângular na ponta dos dedos. Sentei-me numa cadeira de madeira que encontrei sozinha e deslocada num canto pálido e pouco presenteado com sol. Ao sentar-me nela, ouvi a árvore que ela foi em tempos ranger incomodada com o meu peso. Nem percebi como foi absurdo discutir com ela "Do que te queixas? Eu estou magra, todos me dizem que estou magra". Lembrei-me de ti, (não sei se lembrar será a palavra certa, porque na verdade ainda não te esqueci por um fragmento de tempo) hoje mais uma vez me lembrava de ti. Há quase um mês que não sei onde estás, há quase um mês que não te reconheço. Será que quis chegar com passos de gigante até ti, munida de pés pequenos e já cansados do percurso que me irias cobrar? Olhei para o relógio, senti uma pontada de adrenalina doente subir-me até ao peito quando vi que era a hora de vires ter comigo. Era a esta hora que tudo começava, o primeiro abraço timido, o beijo que não chegava para matar as saudades, e as conversas... as intermináveis conversas que decorávamos com risos francos e sinceros como se nunca antes tivessemos sabido o que era rir. Depois ficava o teu cheiro, a disfarçar a saudade que mais uma vez ias deixar, o teu cheiro a furar a minha pele e a minha roupa, a marcar na minha cama o território que era mais teu que meu. A gota salgada que se espalhou no vidro do relógio fez-me acordar da hipnose estática em que estava. Senti o calor do sol remexer as fibras da minha camisa, percebi que o sol já tinha nascido e que eu estava há horas naquela mesma cadeira e naquela mesma posição; quando me quis levantar as minhas costas mostraram-me que, apesar de eu não ter percebido as horas, elas estavam curvadas há muito tempo. Ia caminhando em direcção á mesma porta que não sabia como estava fechada e a cada passo, a cada movimento que esticava e contraía as plantas dos meu pés ia-me lembrando da última vez que tinha falado contigo, da última vez que tinha ouvido a tua voz e que o teu rosto esteve em confronto com o meu. O discurso não sei se foi desconexo, ou se simplesmente eu não o recordava. Só conseguia pensar na troca em ti. Porque é que tudo me parece de plástico, todos os movimentos são artificiais, todos os sorrisos são inexpressivos, todas as palavras são medidas. Porque é que sinto que passei de um mundo estreme que dividia contigo, para esse teu mundo de velhos fantasmas a quem queres provar que és capaz de tudo!? Os saltos dos meus sapatos acompanhavam agora o ritmo de um outro som, percebi então que tinha ainda o mesmo CD a aquecer de tanto rodar, desliguei-me um pouco de ti para perceber o que estava a tocar e num fio de voz rouca ouvi: "ambition makes you look pretty ugly"... foi impossivel não sorrir com a ironia!

segunda-feira, setembro 18, 2006

Esta cidade

Para ouvir: John Frusciante "The past recedes"

Como ela é linda...
Como é bom saber que se pode viver aqui!
Como foi bom aproveitar cada momento, cada paisagem, cada cheiro, cada sorriso da (pouca) boa gente que por aqui ainda habita!!
Como foi saudável respirar o vento que liberto descia do branco da neve até nós, para nos limpar a alma e conservar vivos.
Como será melhor deixá-la... para que outras pessoas a vivam como nós a vivemos, e que a saibam deixar á sua neblina no momento certo.
Como ela desperta em mim a ambiguidade pura entre o amor e o ódio!
Como será bom olhar para ela no momento da partida e dizer:"Obrigado Covilhã por tudo o que me deste". Fechar os olhos e pensar: "Vou-me embora por tudo o que me tiraste"

terça-feira, agosto 22, 2006

mEmento...

Para ouvir: Arcade Fire "Neighborhood (Tunnels)"

Não ia escrever-te nada... não ia dedicar a ti um espaço neste espaço que é só meu. Não porque não o mereças (porque pudera eu poder dividir tantas mais coisas contigo) mas porque de me lembrar que me deixaste... que nos deixaste... não sei se é raiva ou saudade que sinto. Não sabia escrever-te não sabia dizer-te se quero apertar-te tanto, que o sangue que já estancado tens, páre de correr no teu corpo, ou se quero dizer-te que perder um amigo (por uma egoista vontade) me deixa desolada e quase vazia. Não pude dizer-te adeus... estava a muitos quilometros daqui, irónicamente a muito poucos confrontados com a distância que nos separa agora. Não me despedi de ti, estava no meu "time out" e não queria entristecer-te porque sabia que não ias ter férias... aqui na terra!!! Depois veio o telefonema... aquele que sempre chega e que me odeio por ter atendido. A voz... a voz que me dizia que nunca mais seria a tua que ouviria do outro lado. Procurei o teu número na lista telefónica e quis ligar-te... não meu amigo... ainda não o fiz, porque sei que não vai tocar e a voz mecanizada do atendimento automático me vai deixar ainda mais vazia de ti... e mesmo que toque... se tocar alguém vai ouvir o som e ficar, tal como eu, á espera de ouvir a tua voz atende-lo! Este texto não tem palavras bonitas, nem frases floreadas que so rodeiam o que quero dizer... este texto é cru, limpo e tão somente o exacto sentimento que agora tenho por ti, pela tua memória, pelo que vivemos juntos e pela tua (ou nossa) prematura perda. Por isso te digo: "Lembro-me de ti todos os dias, quero falar de ti a toda a gente, pintar-te com todas as tintas que já não posso dar-te, dizer que não eras arrogante, que não eras pedante, que não estavas sempre maldisposto...estavas simplesmente triste!!TRISTE... uma tristeza tão entranhada, tão própria, tão indelével, que nunca haverá no meu vocabulário palavras para a descrever" . Não sei por certo o que te fez tomar a decisão de deixar-nos, não sei qual foi a tua gota de água, apenas sei que tenho raiva de mim por não ter percebido que estavas tão perto do fim (e tenho raiva de ti por não mo teres dito). Sei que com o tempo vai ficar mais pálida a memória que tenho de ti, e que, desgastada com o tempo também se vai a tua inteira recordação, em mim, em nós e no mundo!! E é nisto que me feriste, na maneira como me roubaste tudo o que ainda queria viver contigo. Ás vezes quase que podia jurar que num tempo que não existe sorris pretensiosamente pelo canto dos lábios e murmuras entredentes "Não chorem porque me perderam, tenham-me raiva porque vos deixei "E já agora Ricardo...por favor...POR FAVOR... sê finalmente feliz no qualquer lugar onde estás! "

segunda-feira, julho 03, 2006

Expiar (parte 1)

Para ouvir: Enigma "Beyond the invisible"

Quanto tempo me resta?
Levantei pesarosamente o olhar do papel, tinha os olhos cansados e quando os fechei ficou o rasto branco da sua forma, rectângular e firme, a contorcer-se em sobreposiçoes brilhantes. Eram as marcas reflectidas do papel que li até gastar dele as palavras, e perder na memória o sentido delas. Soube naquele momento que não podia mais fingir que tinha o rumo da minha vida bem apertado entre os dedos. Sai de casa, comecei a descer os degraus, e a cada degrau desejava poder ter motivos para não descer o próximo. E assim fui, derrota após derrota até á porta da fiel cobradora, que me recordava todos os dias, com um sorriso empastado e uma voz sumida, que já haviam passado quinze dias além do prazo legal para pagar a renda. Expunha num tom condescendente: "Estou a ser tolerante porque compreendo a sua situação" mas avisava cáusticamente que um dia teria de ser mais exigente. Depois rodava os calcanhares no chão opaco que cheirava a lixivia, e seguia de volta até casa. Mostrava mais uma vez os dentes cortados em bicos e fechava a porta com um movimento hesitante e arrastado, como se isso lhe causasse algum tipo de dor. E eu ficava pregada ao chão, exposta á talente desta criatura insípida e deselegante que vomitava opiniões e ditava penitências, como se cobrar rendas fosse algo que lhe desse poder divino. Eu sabia que essa aparente compreensão sobre a minha parca situação financeira não era por compadecimento, mas sim uma forma deturpada de me dizer que tinha domínio sobre mim. Na irónica verdade, ela só não tinha domínio sobre os assaltos carnais do marido, que me distribuia lânguidos olhares acompanhados de sorrisos cheios de desejo. Cedo, ela percebeu o fascínio que o seu escorregadio marido tinha por mim, e o facto de eu nunca poder pagar atempadamente a renda era a maneira de ela marcar a linha entre nós. Esse esforço divertia-me, e dava por mim a lançar descarados sorrisos coqueteados áquele homem largo de ossos e curto de limpeza, só para ganhar mais uns dias até ao pagamento. Subi de novo as escadas, mas a cada degrau que subia não sentia o alivio a voltar a mim, sabia que desta vez não ia ser tão fácil.
Quanto tempo me resta agora?




quarta-feira, junho 14, 2006

Devolve-me

Para ouvir: Adriana Calcanhoto "Devolva-me"
Caminhava sozinha, era comandada pela força intuitiva dos meus pés que me levavam ao destino que por momentos esquecera... Foi então que te vi! Todo o meu corpo se electrizou num delírio febril que me fez cambalear ( e eu que queria tanto ver-te), quase sem pensar virei-me de costas para ti, num movimento tão brusco que denunciava o meu medo de encarar o teu sorriso e permitir que a vibração da tua voz entrasse em mim. Percebi que olhava para a montra de uma agência de viagens, e vi ali... a desafiarem-me sem dó todos os destinos em que nos imaginei, em imagens tentadoras e coloridas que quase me toldaram os sentidos. Mas depois esqueci-as; vi o teu reflexo passar por ela. Reconheci nele todos os movimentos teus que decorei para me recordar deles sempre que te visse aproximar de mim. Deixei-me ficar, galvanizada, a observar cada gesto teu... cada passo que davas, imaginei como estaria a tua respiração (como a sentiria em arrepio no meu pescoço, como tantas vezes senti), imaginei como estaria o teu batimento cardiaco (que tantas vezes soube que a minha presença acelerava). Seguiste caminho e o teu reflexo seguiu-te, o meu mundo ficou mais vazio, perdi a tua imagem... perdi-te! Fiquei só eu no reflexo, percebi como tão distintamente ele me mostrava assim. Olhei os meus olhos vazios, e lembrei-me de como eles eram vivos quando estavam cheios com a tua forma. Tentei seguir o caminho que irónicamente me levava para mais longe de ti. Mas tive de olhar, rodei o pescoço e procurei-te na rua... sentia o vento a acarinhar-me pesarosamente o rosto, senti o meu cabelo roçar com delicadeza os meus lábios, vi-te... fechei os olhos e deixei que ele me recordasse o toque do teu beijo. Gritei-te em silêncio: Devolve-me todos os sorrisos que te dei, devolve-me a calma e a paz de espirito que demorei tanto para conquistar. Devolve-me o pedaço de mim que sem o meu consentimento me tiraste... Devolve-me tudo... preciso de tudo, não me reconheço sem esses pedaços! Pedem-me que reaja mas sem eles não me consigo erguer. Gostava de ter-te dito tudo, gostava que o tivesses percebido! Agora quero esquecer o teu nome, saber quem nele habita e quem o chama como seu! Imagino o dia em que o meu caminho trace distraido uma perpendicular com o teu, o dia em que passe por ti e te sorria... o dia em que a minha voz deslize firme e segura até ti: Vivemo-nos muito... respiramo-nos pouco!!

Títeriar

Para ouvir: Jorge Palma "Estrela do Mar"


Viste o teu rosto ao espelho... tinhas o mesmo olhar carregado, eram noites mal dormidas (Tenho tanto que estudar, falta-me tempo...posso comprar tempo?)... Deixaste a água fria que jorrava livre e desprendida lamber-te os dedos. Sentiste-te mais desperto, então recordaste...
Mas deixa-me recordar-te...
É sempre um sorriso! Conheço bem o teu jeito... caminhar seguro, um pouco balançado, mas próprio de quem conhece bem o trilho que pisa. Conheço bem a tua voz... vincada, um pouco embargada em sisios. De argumentos fortes, sólidos! Sempre um sorriso...

Recordaste o teu universo, a forma como seguras tudo na tua mão, num jogo de marionetas que dedilhas como um precioso piano de cauda, ninguém tem de te obedecer, mas embalados pela melodia todos o fazem.
Olhaste de novo o teu rosto no espelho, notaste como estava cansado, mas nesse momento recordaste um rasgo de humor que alguém teve sobre esse olhar carregado... (as coisas que eles se lembram)... e abriste para o espelho o teu sorriso! Aquele sorriso... aquele que só reservas para com quem podes ser autêntico, com quem podes ser o menino despreocupado e delicado que sempre quiseste ser. Todos os traços de cansaço desapareceram quando vincaste na pele a força desarmante do teu sorriso. Sentiste então a água que já teimosa de fria te começava a incomodar. Levaste as mãos ao rosto... Mais um olhar... estou pronto para o meu dia!!
Para que te recordes... foste abençoado com o olhar gélido de um arrogante... e o sorriso de um anjo!!

sábado, junho 10, 2006

Espaço de outros....

Para ouvir: Gary Jules "Mad World"
Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu, que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nesta alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Paulo Setúbal






"O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei."
José Luis Peixoto in "Morreste-me"






terça-feira, maio 30, 2006

inSolidez

Para ouvir: Sétima Legião "Por tua imensa saudade"
Senti o chão passar como uma vertigem pelos meus pés, não sei quantos dos degraus que subi me escorregaram sob o corpo. No inicio senti a dor, depois a dormência, no final só pensava que tinha de acabar. Por fim o meu corpo parou de deslizar pelo frio do chão, talvez porque tenha encontrado uma parede que a velocidade da queda não conseguiu trânspor. Não sentia nada além da força que fazia para respirar. Os meus olhos estavam fixos na cor amarelada do tecto, conseguia ver ainda o inicio do corrimão, parecia tão sólido que não entendia como pode ele escorregar-me da mão. Sentia-me desconfortável, mas tinha tanta preguiça em me mover, estava a ficar com tanto sono. Não me recordava há quantas horas estava acordada, não sabia se era lógico estar a lutar para não adormecer. Fiz um esforço por mover os lábios, para conseguir chamar alguém, ou pelo menos emitir um som para saber como ia a minha voz chegar aos meus tímpanos, para ter a certeza que ainda estava viva. Depois percebi que já tinha os lábios entreabertos porque senti o calor húmido da minha língua a passar por eles... e foi quando percebi que algum daqueles degraus me tinha roubado a voz! Ouvi uns passos, senti-me aliviada por notar que ainda conseguia ouvir, ou será que era o som do meu corpo a desprender-se de mim!? Mas e os passos, porque já não os ouço? Foi então que o bater de uma porta me roubou a última esperança, era mais uma porta que se fechou e talvez já só abrisse tarde demais. Esperei mais um pouco... depois pensei que talvez já me conseguisse mover, afinal já tinha descansado um pouco (ou talvez umas horas, não sei) Experimentei uma sensação calma de anestesia... Não, não me vou mover. Acho que vou dormir um pouco!

segunda-feira, maio 29, 2006

Ao 5º Passo

Para ouvir: Yann Tiersen "Comptine d'une autre été"
Bateu a porta atrás de si, entrou em casa e sentiu o cheiro familiar do que costumava ser o calor porque esperava o dia inteiro por voltar a sentir. Olhou á volta e viu tudo no seu exacto lugar e invadiu-o a saudade da forma como antes gostava do que via. Deu dois passos, sabia movimentar-se naquele espaço de olhos fechados, experimentou fecha-los... recordou com as mãos apertadas em dor que visão outrora teria quando os abrisse. Um a seguir ao outro chegou ao quinto passo. Abriu então os olhos! Sabia de cor a disposição dos móveis que o rodeavam, mas sabia que a figura humana que se destacava á sua frente teve em tempos um sorriso. Olhou para ela com uma expressão glaciar, se algo nele fosse lido numa mais comum expressão facial ele seria derrotado pelas palavras que presas na língua nunca conseguiria dizer. Os lábios dela moveram-se ameaçando soltar no ar alguma palavra, ele estremeu com aquele breve momento, já conseguia ouvir o ressoar do fracasso muito antes de ele começar a bramir. Uma lágrima escapou tão brilhante quanto inesperada dos seus olhos quase sem cor, a sua mão cortou cada milimetro de ar até conseguir pedir á figura inerte á sua frente que não começasse a falar. Com um braço esticado na sua direção a figura parou de o acusar; cravou os olhos no tapete que tantas vezes sentiu o cheiro do seu amor e ficou estática; a três passos do quinto passo que ele deu desde a porta por onde entrara. Com a voz trémula e vazia de emoção disse-lhe "Fiz o juramento que sempre te diria a verdade, e que te consolaria com a mentira." Ela sentiu-se apertada entre os maxilares de um lobo, nua exposta e ferida. Toda a sala parecia embaraçada de presenciar aquele momento e o tempo sentia estar proibido de passar por ali. "Sei o que sinto, o que te fiz e sei que te amo". Ela que parecia embrulhada numa fita invisivel, sentiu desembaraçar-se dela num estalar de dedos. Deslizou os pés pelo tapete saudoso deles e ao décimo passo parou, pegou numa pedra translúcida com umas letras de amor gravadas num momento em que nem elas chegavam para o que ambos sentiam. Num impeto atirou-lha com toda a raiva que sentia, não por desprezo por ele mas sim por si mesma, por saber que lhe perdoaria. Ele desviou-se e com um silvo a pedra rasgou-lhe o ar nos ouvidos, a voz dela quebrou a violência do momento "ai tens mais uma pedra no nosso caminho". Ainda desiquilibrado focou-a e já direito disse-lhe "Se eu olhar para essa pedra como um tesouro saberei que estou cercado deles e se, como a qualquer pecador, me forem atiradas mais pedras estarei a receber diamantes e ouro". A voz dela já não cabia na sua garganta e a multidão das palavras esmagavam-se para sair, mas inibidas pelo pressentimento da resposta fechavam-se em si. Foi sem ar no peito e com as náuseas provocadas pela mágoa de não saber como chegar até ela que disse "eu quero ir" com a mão ainda a tremer pegou num lenço de cor viva que desafiava todo o ambiente que o envolvia, levou-o ao rosto e limpou a ultima lágrima. Tudo isto sem nunca ter saido do quinto passo onde chegou de olhos fechados. Endireitou-se tanto quanto os seus musculos lho permitiam e ao sair sentiu-se como um grão de areia a brilhar no deserto... orgulhoso por saber que na sua ausência o deserto ficaria mais pequeno.

(To:..........Porque a dor do que vai acontecer é um adormecimento dela mesma)

quinta-feira, maio 18, 2006

Nas tuas asas

Para ouvir: Neil Young "Philadelphia"
Fazes-me lembrar as fadas das histórias que ouvia quando era uma criança! Mas a natureza não te deu asas...no entanto eu sinto-as. Sinto o bater das tuas asas, que passa pelo meu rosto numa suave brisa, e se aloja no meu coração com um calor reconfortante.O que provocaste na minha vida foi um efeito borboleta, porque o teu simples bater de asas, no fundo da rua que é tua e que é minha, levou até mim a calma que há anos procurava. Recebes-me com um sorriso, dás-me a tua voz que me mergulha nos timpanos com a sensação dormente da suavidade que tem, vens e caminhas a meu lado com a leveza da borboleta que te negaram a ser. És a pureza num corpo frágil, capaz de ser tornar em Hércules para defenderes quem te vê com as asas que sombreiam e emolduram as tuas costas!
(To: A minha Vânia...que tem sido tanto para mim) OBRIGADO

sábado, maio 06, 2006

Em ti

Para ouvir: Smashing Pumpkins "Farewell and Goodnight"
Hoje fizeste-me tão bem...
Vi-te chegar, reconheci o teu corpo mesmo quando era só uma sombra á distancia. Via os teus pés moverem-se, calcarem a relva fresca e alta e trazerem-te até mim. A cada passo que te aproximava mais de mim era menos uma pontada gelada de medo que vibrava violenta no meu corpo. Tinhas os olhos pegados no chão, as mãos afundadas nos bolsos e um sorriso que teimava em não se dar a conhecer. Foi então que em esforço levantaste os olhos, que insistiam numa trajectória no chão, e me viste. Eu estava sentada num frio banco de pedra, que me pareceu delicado como algodão assim que começaste a fazer parte daquele cenário, assim que soube que o ia partilhar contigo. O sorriso que francamente me dedicaste, foi tão inesperado quanto saboroso. Ouvi a tua voz, aquela voz serena e tentadoramente arrastada que conhecia desde o inicio, mas que há muito não ouvia. Sentaste-te ao meu lado, ao olhar-te vi-te indefeso, percebi que vieste até mim sem o peso do medo que te afastava de nós. Envolveste-me nas mãos que pensava já não serem minhas e puxaste-me até ti, senti o cheiro do teu perfume e pensei que nunca nenhum outro aroma me tinha confortado tanto; mas foi quando o meu rosto repousou no teu ombro que soube que era ali que queria morar... eternamente em ti!

segunda-feira, maio 01, 2006

O sal que bebo

Para ouvir: Antony and The Johnsons "The Lake"
Como gostaria de conhecer-te....
Como gostaria de te perceber... Como gostaria de te sentir presente e vivo... como gostaria de me sentir presente, viva e cheia de tudo aquilo que me deste a conhecer. Como gostaria que fosses meu como eras, como gostaria que o teu toque não fosse só uma recordação! Como gostaria de escrever aqui todos os momentos bons que passamos juntos, como gostaria de saber que era verdade quando os lesse, e quando tu os lesses! Como gostava de sentir nos meus lábios o teu beijo... e não o frio salgado de uma lágrima que choro quando me lembro de ti... e se me lembro sempre de ti... quanto sal eu não bebo!

sexta-feira, abril 28, 2006

ARE YOU??

Para ouvir: Anathema "Are you there"
But what can I say now?
It couldn't be more wrong
Cos there's no one there
Unmistakably lost and without a care
Did we lose all the love that we could have shared
And its wearing me down
And its turning me round
And I can't find a way
Now to find it out
Where are you when I need you...
Are you there?
Estas são as melhores palavras que tenho para dizer (para te dizer) espero que um dia as compreendas, na exacta medida em que eu tenho de te perceber...
Todos os meus fantasmas se recolhem e retraiem quando passas por eles para chegares até mim...

quarta-feira, abril 26, 2006

Para ouvir: Mando Diao "Long before Rock'n Roll"
Perdeste-te? E eu... vou queimar o mapa



Como te sentes agora????

quarta-feira, abril 05, 2006

Moldura de mim...


Para ouvir: Ornatos Violeta "Notícias do fundo"
Numa quase inexplicável moldura de mim
Vejo-te construido à minha imagem
Pele, carne e sangue, apertados num cetim
Que se molda a cada passagem
E me tira o folgo... só um olhar!!Assim..


Numa indiscreta polegada de sorte
Numa enorme vontade e fome de rei
Perdida...sem linhas nem corte
Na exacta medida em que me levaste e eu deixei


Dormi numa cama que não fiz
Onde amanhã se ouvirá outro suspiro, num outro tom
Será como um risco de giz
Tão fundo, tão doente, um grito sem som...


Eis a explicação de quem morre de paixão
Por um amor que sabe que nunca será seu
Mas a vontade de te tocar marca a divisão
Entre o que sei que antes de o ser ja não é meu

(uma moldura de mim que há muito já devia ter sido mudada)

sexta-feira, março 17, 2006

Dissolvente

Para ouvir: Pedro Abrunhosa "Eu não sei (quem te perdeu)"
Escuto a tua voz e fujo!
Porque te perdi, porque nunca te tive, porque nunca te quis ter!
Porque não te toco, porque não te deixas tocar.
Senti-te num breve instante, nem o meu principe foste, não me deste tempo para te pintar assim.
Arrancaste ao céu e deste-me o que nunca me pertenceu... o que nunca me quiseste dar. Tocaste-me mas não me sentiste. Senti as tuas mãos e a tua pele, mas ela nunca passou por mim. Foste mais breve do que um cheiro, foste mais efémero do que um beijo... Porque te fechas e te escondes? Porque não me deixas chegar ate ti? Não quero de ti a paixão de letras que leio todas as noites, solitária e sedenta dos amores poéticos que sei não existirem... quero de ti o olhar, não o que passa, mas o que fixa, o que se cerra numa lágrima que diz... Gosto de ti! Quero de ti alguem que bombeie o meu coração quando ele estiver cansado de bater....
Mas desapareces... Deixas no teu rasto um vibrato tão agudo quanto doloroso e fere-me os ouvidos o que a tua alma teima em não ouvir.
(To: N)

terça-feira, março 14, 2006

Hoje és cor

Para ouvir: Jamie Cullum "I´m glad there is you"

Tantos dias passaram por mim, tantos dias em que te sabia do meu lado numa ligação tão frágil tão subestimada! Eras tudo o que vivia e o porque de o fazer! Absorvi todo o teu mundo para o meu... Sentia a minha vida passar por ti, ser dedilhada como a cada fio de cabelo que passava só e fino pelos teus dedos. Senti-me levantada do chão, transportada nos braços fartos e fracos, que me seguravam com a força do amor que outrora lhe tinha sido prometido. Como Orpheu quis seguir-te, silenciosa e oculta, para que nunca olhasses para trás e não visses o ser imperfeito que sempre te quis esconder. Podia escrever-te uma canção, dedicar-te os seus mil versos, inventar uma nova melodia, dar-te tudo o que até entao não existia, e mesmo assim nunca saberias o que és para mim. Sabia que tinhamos sido criados um para o outro, sabia-nos pertencentes á mais divina conjugação, que nos criou para que nunca nos separassemos, mas foram anos que passaram por mim até que a realidade me envolveu... me gritou aos ouvidos surdos que não tinha sido para aquele amor que tinhamos sido criados. Conheço todos os traços da tua pele, todas as história que ela conta. Contei todas as lágrimas, conheço-lhes o peso e o sabor. Hoje és mais... hoje és cor. Hoje ombreio contigo na cumplicidade dos actos, nas palavras secretas que só nós sabemos ouvir, nos olhares perdidos que só nós sabemos a quem dedicar, nos risos... aqueles que nos sugam a respiração e que se libertam no alivio de respirar o que é só nosso.
(To: D)

quinta-feira, março 09, 2006

Sempre chega!!

Para ouvir: Kasabian "Ovary Stripe"
(foto por: Nuno Estrela)
Mexia e enganava o vento com a rapidez com que se movia, num assobio metálico, num zunido que queimava o ouvido. Estava tão certo de si, em nada duvidava, tudo o que acontecia passava-lhe pelas palmas das mãos e seria tal como tinha previsto, tal como queria que fosse! Muitas vezes a olhar para ele pensei que estava tão insuflado em si mesmo que talvez tivesse engolido e ligado uma luz dentro de si, só para se ver brilhar e para repelir com voltizados toques quem não desejado se aproximasse. Estava tão gasto no espelho, nada mais ali era reflectido, nada além da sua imagem. Se usasse baton estaria neste momento a olhar para uma mancha vermelha e cremosa. Mas o dia chegou (porque ele chega sempre, impiedoso como todos os outros, mas este nasceu pra ele)... Alguém lhe sussurrou ao ouvido: "Hoje já não és o meu rei, não mais o serás"... Como??... Quem mudou as regras e não o informou? Uma grossa gota de suor rolou pela testa, roubou-lhe o liquido á garganta, que em dor engoliu em seco. Sentou-se em todas cadeiras, pousou os cotovelos em todas as mesas... trocou nervosamente o pé que apoiava no chão vezes de perder a conta!... Como??... Todos os olhares pareciam carregados de desdém, risos escondidos em palavras e em lábios mordidos... Como??... Onde está o temor e a admiração que todos lhe tinham?? Não mais o serás... ferem as palavras, repetidas a cada amanhecer e anoitecer. O que era teu fugiu, foi enriquecer outro rosto, dar sangue a outro corpo.
(Dedicado a todos os que querem dizer "um dia não serás nada")

quinta-feira, março 02, 2006

Para ouvir: Dave Mathews Band "#41"
Porque há erros que sabem tão bem....
Porque há erros que se tornam em coisas tão certas...
Porque há erros que estao destinados a ser eternos...
Eu escolho errar e acertar nesse erro!!



Ritmo de anjo...

Para ouvir: Chambao "Ahí estás tu"



Rasgas os momentos com os teus fáceis sorrisos. A cada passo que dás, em cada sitio que enches com a tua presença... és rainha e dona de tudo!! Tens a tua menina frágil e doce protegida pela mulher segura de quem vestes a capa! Em cada movimento de cabelo, a cada suspiro... pagas para ver!! A quem se atravesar no teu caminho... será desarmado com a mais doce das palavras, o mais rendido sorriso, sem que nunca percebam que foram derrotados pela mais feroz criatura... que munida de tudo o que és te tornas na folha leve e doce que corta tudo a sua passagem!! És a melodia dos pássaros e o grito agudo da noite. És a luz timida da manhã e o farol de Alexandria. És o caminhar melancólico e a dança poderosa. És um piscar de olhos e o salto para o infinito. Tens a suavidade de um fio de cabelo e a força de uma avalanche!!


terça-feira, fevereiro 21, 2006

A tua pequena história...

Para ouvir: Coldplay "X and Y"
Beija-me os lábios, limpa deles o calor do sol e o sal do mar que acalmou e viveu a nossa paixão. Agora abraça-me... mata a sede que tive de ti durante os anos vazios que me privaram da tua presença... Não duvides de mim, aceita o que te dou como uma prenda do que nunca te pude dar... vive-me sem medo do que o tempo possa trazer ou o que o passado possa revelar. Agora é o momento para partilhares o teu batimento cardiaco comigo... respirares comigo! Seres meu como sou tua...

Para o Filipe:

Para ouvir: Muse "Time is running out"

Há uma falta de ti nas tuas palavras... há um peso enorme que não compreendo, e muito menos aceito que me digas que parte dele é minha culpa!! Se o que te afasta de mim é saberes que o sangue que me corre nas veias não é o mesmo que o teu, deixa-me dizer que não te sabia tão superficial... e se é só uma questão de sangue... então podes dernar todo, e encher-me do mesmo liquido quimico que te enche o corpo e voltares a olhar-me como a irmã que sempre fui para ti, mesmo correndo o risco de passar pelo tal "apelo do sangue" em que tu te escondes... que cobardia!! Mas numa coisa te dou razão é de facto genético... porque se tivemos os mesmos pais só pode ter sido um erro da natureza que te desviou do caminho que com tanto de nós traçamos. Já não és o mesmo menino assustado, que com os olhos cheios de medo evitou falar durante três dias. Já não és o menino que conquistei com canções desafinadas e balbuciadas para nunca perceberes que não sabia a letra. Já não és o menino que tão orgulhosamente passou o meu ombro "rumo ao infinito".
....................Não consigo dizer-te mais......................................

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

A minha pupila

Para ouvir: Red Hot Chili Peppers "Porcelain"




A primeira vez que pousei o ansioso olhar em ti, não eras maior que a minha pupila! Vi-te pela primeira vez, como se fosse o primeiro olhar que lançava sobre o mundo. Eras tão frágil... quase me senti impelida a obrigar que todos parassem de respirar para que nada incomodasse o teu sono! Queria ter-te nos meus braços, puxar-te para mim, avisar-te que o mundo ia ensinar-te duras lições, mas que eu estaria sempre; não ao teu lado; mas á tua frente para que todos os golpes que te fossem dirigidos me atingissem primeiro, e que chegassem a ti como um leve aperto! Hoje quando te vejo sorrir, sinto que uma parte dessa felicidade me pertence! Se alguma lágrima atrevida me desafia a cada centimetro da tua pele, sinto que essa tristeza é mais minha que tua! Sinto o privilégio que é poder ver-te crescer como uma recompensa do que nunca me foi elogiado.
Conta sempre comigo...

Para a mana mais certa do mundo