sábado, novembro 17, 2012

De um lado ao outro há apenas o mundo.


Para ouvir: James Morrison - Wonderful world
Sofia estava de pé. Olhava-se ao espelho enquanto escovava o cabelo em movimentos repetidos sem se dar conta que estava a escovar os mesmos fios há demasiado tempo. Reflectido atrás dela estava o seu quarto. Sempre arrumado e organizado. Os cortinados brancos imaculados, os moveis sem vestígios de pó. Livros, molduras, e recordações geometricamente enquadrados nos tampos de madeira. Os quadros na parede tinham sido pregados a fio de prumo, e as suas imagens eram de paisagem bucólicas e cenários de flores e cores amenas. Assim era o quarto dela, o mundo que a pouco e pouco foi construindo com a aprovação de todos os que importavam para ela. E assim também se via ela, a menina bem comportada, de aspecto candido que todos esperavam que fosse. O rosto dela era inexpressivo, as linhas que lhe marcavam a cara não tinham emoção. Só os olhos brilhavam! Os olhos dela fixavam-se agora no infinito, quando a visão começou a ficar turva fechou-os. Esperou uns segundos, deteve-se nos seus pensamentos sem perceber que continuava de olhos fechados, e quando finalmente os abriu, Sofia estava do outro lado do espelho. Deste lado do espelho era tudo diferente. Era um outro mundo... Deste lado do espelho havia vida! Paredes pintadas de vária cores, um par de sapatos perdidos no chão, a janela aberta deixava entrar o sol e uma brisa que agitava os lençois da cama por fazer. Deste lado a Sofia tinha o cabelo solto, um sorriso que lhe vincava as marcas do rosto, e os olhos, inundados de coisas novas, tinham algum medo pela descoberta saborosa naquele mundo novo. Deste lado ela podia desarrumar tudo, podia partir o que não gostava e deitar fora o que lhe trazia más recordaçoes. Deste lado podia pensar livremente, cantar alto e dançar descalça sem medo de se cortar. Mas deste lado havia perigos, nesta parte do espelho não havia ninguem do lado de fora da porta. Deste lado tudo era perfeito no quarto, mas não existia mais ninguem senão ela. Sofia respirou fundo, o sorriso esmureçeu. O que podia fazer ela? Ficar naquele quarto??... onde se sentia mais leve que uma bola de sabão, poder vive-lo, toca-lo, senti-lo e respira-lo numa felicidade que só ela percebia. Ou voltar para o outro lado do espelho??... onde o quarto lhe apertava o peito e a algemava ás paredes, mas onde toda a gente queria que ela estivesse, e onde todos achavam que era o lugar dela. Era esta a sua escolha!! 

1 comentário:

Sergio disse...

Porque é que eu acho que só eu é que entendo o que é que queres mesmo dizer com isto??? Amiga... sempre aqui!!Beijinho... be brave!!